Empoderamentos

Temos entendido, anualmente, dedicar um tema ao Festival. Esse tema serve para guiar as atividades paralelas, e para munir o FITEI de uma linguagem comum que permita um diálogo mais horizontal com os artistas e com o público. O FITEI 2018 não é exceção e, do ponto de vista temático, dedicar‑se‑á a debater e reflexionar sobre os empoderamentos. Este tema não pretende condicionar os artistas, mas sim ajudar a fixar discurso sobre as suas obras, com toda a abertura que elas necessitam para serem percecionadas.
Com empoderamentos referimo‑nos à necessidade de dar poder a quem normalmente não o tem: à mulher, às minorias étnicas, ao pobre, ao habitante do sul da Europa, ao habitante do sul do mundo, ao indígena, e a muitos outros exemplos, que nos obrigam a refletir e a reequacionar a ideia de centro e de periferia, assim como a própria ideia da verticalidade hierárquica.
Numa programação que pretendeu não paternalizar nem ocupar um lugar de fala que pertence a um outro, tentámos jogar com as questões da alteridade e manter a diversidade estilística e geracional que tem marcado o Festival. 
Caranguejo Overdrive de Aquela Companhia, do Brasil;  Mendoza de Los Colochos, do México; A House In Asia dos catalães Agrupación Señor Serrano, Correo da chilena Paula Aros Gho, Altíssimo do Pernanbucano Pedro Vilela, a residência Yo Escribo. Vos Dibujás, no regresso de Federico León, da Argentina, constituem fortes atrativos internacionais para o certame deste ano.
A nova obra de Victor Hugo Pontes, Margem, com guião a partir de Capitães da Areia de Jorge Amado, adaptado por Joana Craveiro, e com um elenco de adolescentes. A nova obra de Marco Martins, Provisional Figures: Great Yarmouth, que pensa o surto migratório português da última década para esta pequena cidade inglesa. Quatro encenadoras/criadoras estreiam as suas novas obras no festival, Sara Barros Leitão, Ana Luena, Raquel S. e Diana de Sousa. André Amálio pensa o pós‑colonialismo na sua Trilogia, Nuno M Cardoso a animalidade na estreia de Lulu, Luis Araújo a sustentabilidade em Pulmões e Miguel Bonneville a transsexualidade e o feminismo revisitando a sua obra de 2008 MB#6, e estreando uma versão para 2018, à luz da evolução crítica dos temas. Ainda poderemos ver no Porto duas companhias da descentralização, Teatro da Didascália e o Teatro do Noroeste, além das mais recentes e muita esperadas obras de Paulo Ribeiro e Tonán Quito. O festival propõe também várias atividades paralelas e uma secção formativa intitulada Isto não é uma escola FITEI. Continuamos também a nossa parceria com a Matéria Prima, com as sugestões musicais do Paulo Vinhas.
As atividades decorrerão no Porto, Matosinhos, Viana do Castelo e Felgueiras, e a partir deste ano congratulamo‑nos com Gaia se ter juntado, também, a esta festa do teatro, parceria que temos a certeza que se continuará a desenvolver e a fortalecer. Queremos também continuar a entender o FITEI como um espaço de resistência, de apoio da diversidade, da transgeracionalidade, um espaço de empoderamento do próprio tecido artístico português e ibero‑americano. Ainda falta fazer muito, mas este parece‑nos o caminho certo.
Queremos também continuar a entender o FITEI como um espaço de resistência, de apoio da diversidade, da transgeracionalidade, um espaço de empoderamento do próprio tecido artístico português e ibero‑americano. Ainda falta fazer muito, mas este parece‑nos o caminho certo.

Gonçalo Amorim
Diretor Artístico, FITEI