Malvinas revisitadas

09 Jun

A encenadora argentina Lola Arias e os seus veteranos da Guerra das Malvinas desembarcaram no TECA para duas apresentações de CAMPO MINADO. Demonstração clara de que o teatro documental consegue jogar eficazmente com as fronteiras da ficção e da realidade, CAMPO MINADO desafia géneros e convenções para envolver o público na reconstrução, em palco, das histórias de seis sobreviventes de uma guerra aparentemente esquecida para os ingleses, mas ainda na ordem do dia para os Argentinos.

Misturando um registo teatral e audiovisual, e com um forte apelo à música, CAMPO MINADO parte da memória para construir uma ficção real. “Estes homens contam apenas as suas histórias pessoais e não histórias alheias, mas houve todo um trabalho de construção. Tivemos que cruzar e estruturar essas histórias. Tivemos que trabalhar a postura deles em palco e as suas atuações: as suas pausas, o modo como falavam, a forma como encontravam uma emoção. No fundo é como se estivessem a representar histórias que não eram suas. Trabalharam concretamente sobre a arte de narrar!”, conta Lola Arias.

As Malvinas permanecem hoje um motivo de fricção entre a Argentina e o Reino Unido. Isso teve repercussões durante a criação do espetáculo e, posteriormente, durante as suas apresentações. Continua Lola Arias: “A questão da soberania era um problema que se colocou na própria peça. Os ingleses perguntaram-se se eu, enquanto argentina, os conseguia representar. Havia sempre essa dúvida: seria uma obra argentina ou britânica? Eu sou argentina, mas a peça não se define pela minha nacionalidade. Em Londres, foi como trazer a questão de volta à luz do dia! Já em Buenos Aires, houve pessoas que foram ver a peça com cartazes a dizer 'Las Malvinas son argentinas'! O teatro tornou-se num lugar de contestação; o que foi totalmente inesperado!”

Para além de apresentar CAMPO MINADO, Lola Arias animou também um workshop intitulado Os meus documentos, no qual artistas locais puderam trabalhar em projetos pessoais esquecidos nos ficheiros dos seus computadores. Esse foi o segundo workshop da secção ISTO NÃO É UMA ESCOLA FITEI, depois do workshop de Ana Bigotte Vieira e antes do workshop de Joana Craveiro, Laboratório de um História Problemática, que decorrerá no dia 15 de junho no Teatro Rivoli.